terça-feira, 12 de abril de 2011

5º cap O Conselho



Na quarta feira Júlia voltou a escola acompanhada do pai, S. Caetano, para conversar com a Diretora. Desde o momento em que contara em casa sobre a suspensão seus pais não falaram nada, só a  proibiram de sair de casa. Ninguém perguntara o porque da atitude agressiva de Júlia . Seus pais não costumavam bater nos filhos por qualquer motivo, só em último caso e quando confirmado o fato.
No momento em que chegava a escola  a sino tocou pra entrada do turno. Júlia estudava no turno da tarde, pois durante a manhã costumava ajudar em casa nas tarefas domésticas. Entraram em silêncio na escola e logo avistaram S. Rafael no pátio que dava acesso as salas...
- Boa Tarde! A Senhora Diretora mandou que comparecesse hoje...
- O Senhor é o pai de Júlia? Venha D. Severina lhe aguarda, Júlia me espere na secretaria .- ordenou o secretário enquanto conduzia S. Caetano a sala da direção que era próxima da secretaria.
D. Severina encontrava-se sentada no seu birô lendo um papel , ao perceber a entrada de S. Caetano levantou-se e cumprimentou-o:
- Boa tarde! O Senhor deve ser o pai de Júlia... sente-se – Falou mostrando a cadeira enfrente ao birô. S. Rafael saiu e fechou a porta.
- D. Diretora eu queria pedir... – começou o pai de Júlia timidamente.
- S. Caetano, não é mesmo?- interrompeu a diretora colocando o papel que estava lendo antes a frente de S. Caetano.- Sabe o que é este papel?
- Desculpe senhora, mas não sei muito de leitura e documentos...
- Não precisa saber muito Senhor.- falou solicita- este é um documento, um abaixo assinado feito pela turma de Júlia e... bem quase todos os professores, sabe pra que?
- Não senhora.
- Pedindo pra que eu releve o que a Júlia fez, que não a puna , nem expulse e sei lá mais o que... – falou chateada- como se esta fosse minha idéia em algum momento, oras!
- Mas, não entendo... a senhora suspendeu minha filha e ..
- Sim suspendi, porém não por castigo. Foi uma medida pra protegê-la, pra afastá-la de uma situação de risco. Jamais pensei em fazer-lhe algum mal, pois sua filha é uma de minhas melhores alunas.
- Não compreendo?
- No bilhete, expliquei que era uma medida pra acalmar os ânimos da Júlia e que a mesma não deveria ser punida, apenas desejava conversar com o senhor ou sua esposa e que Júlia deveria ficar em casa pra recobrar a sua costumeira calma ... o senhor seguiu minha orientação?
- Claro! Não costumo bater sem razão em meus filhos por isso estou aqui...
E atenciosamente ouviu o que D. Severina tinha a lhe falar.
Enquanto isso na secretaria, Júlia  conversava com S. Rafael que também freqüentava a mesma igreja de Júlia.
- Sabe  Júlia fiquei muito preocupado com o que aconteceu. Você não é uma garota de brigar ou aborrecer-se sem motivos e naquele dia estava muito nervosa, o que houve?
- Nada não...
- Mentir é feio Júlia! Sabemos que o Paulo não tem um bom comportamento, mas você agir daquela forma...
- S. Rafael o que o senhor faria se, digamos alguém sempre xinga-se e zoa-se?
- Sabe a minha filha Júlia? A Ângela? Ela estuda aqui de manhã e sempre que isto acontece a orientei a procurar ajuda, nem sempre enfrentar abertamente a situação é a melhor maneira... você já tinha contado pra seus pais ou alguém o que estava acontecendo?
- humm eu... não contei, tinha medo...
- Pois é... o medo alimenta o agressor nestes casos e outra pessoa pode ajudar a acharmos a solução. Sabe, o Paulo é meu vizinho...
- Não sabia que o senhor morava aqui na favela...
- Júlia morar na favela não é sinônimo de vergonha, a não ser que ela mude seu interior  e você se deixe levar por maus exemplos.É preciso morar na favela, mas não deixar ela habitar dentro de você. Aqui no Coque seria muito bom de morar se todos pensassem isto.
- Sei...- respondeu Júlia pensando em quanta gente boa que conhecia – mas, o que tem o Paulo?
- Paulo querida, é uma vítima dos que se deixaram levar pela miséria da alma... o pai dele está preso por assassinato, a mãe é alcoólatra e Paulo está envolvido com as drogas... é um avião.
- É pra ter pena dele? Não entendo?
- Não Júlia, como cristã é pra orar por ele.Sabe, a transferência dele foi pra tentarmos  tirá-lo deste meio, ele está indo pra outro bairro morar com os avós. Ore por ele, pois quando ele saiu daqui me pediu pra falar com você... ele ficou assusta do quando você fez aquilo e via em você tudo o que ele queria ser e ter.
- Mas eu não sou ninguém, nem tenho nada...
-Você tem sim menina e como tem! – riu o senhor Rafael carinhosamente - você tem força, tem sonhos, tem uma família que te ama e é muito inteligente . Tudo o que pessoas como Paulo queriam ter  e ser... e o principal as pessoas podem ver Deus em você.
- Em mim?
- Sim  e isto é sua maior força, não se esqueça. Cristo em seu coração é a sua verdadeira força  pra impedir que as coisas ruins da favela tome sua alma.
- Então o senhor acha que devo orar pelo Paulo?
- Eu não acho, tenho certeza. Foi o próprio Paulo que pediu quando conversei com ele e o convidei a ir a igreja.
- Nós não fomos a igreja domingo... Seu Rafael, não é somente o Paulo que está mexendo comigo...  o senhor conhece o Zeca?
- Sei... Zeca ou melhor a turma do Zeca foi pega ontem traficando drogas aqui na escola pela polícia... estão na FEBEM.
- Como?
- Desculpe, mas não posso dizer como.
O Paulo!!

3 comentários:

  1. Algumas vezes não compreendemos o que uma pequena atitude pode desencadear...
    Espero que vcs gostem deste 5º cap... quarta posto o 6º cap que é algo que estou acrescentando... aguardem!! Bjs

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  2. É tenso mesmo. Estou aprendendo mais um pouco sobre o tráfico. Também escrevi e ainda escrevo sobre o tema drogas.

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