domingo, 22 de maio de 2011

Viva!!!

Hoje de manhã estavamos em 998 e agora já estamos com 1031 visualizações!!
Gente muito obrigada!! Mesmo pra quem não comenta ( o que seria ainda melhor)!!
Vou antecipar a postagem da segunda parte de Júlia de tão contente que estou!!

Então amigos de plantão, arrumem seus computadores e apertem os cintos!! Vamos viajar pra 1990 e talvez tenhamos um salto no tempo no meio da história, então não cochilem muito rsrsrs

Mil bjs!!

terça-feira, 12 de abril de 2011

QUERIDO DIÁRIO

Recife 18/04/1989

Nossa!! Hoje voltei a escola  e você não imagina quanta coisa aconteceu em tão pouco tempo...
Meu pai falou com a Diretora e saindo de lá me abraçou forte e disse que tivesse juízo, antes de qualquer atitude falasse com ele ou com algum adulto... acho que foi a primeira vez que meu pai me olhou daquele jeito...
S. Rafael conversou comigo enquanto esperava meu pai ... ele me disse que devo orar pelo Paulo, que é uma vítima da violência... mas, o que me deixou boquiaberta foi que o Paulo denunciou a turma do Zeca e eles foram pegos vendendo droga na porta da escola... quanta coisa perdi nesses dias??
Falei com a diretora quando meu pai saiu e pedi desculpas pelo meu nervosismo, ela apenas me disse que a paciência é o segredo da vitória.
Vou seguir o conselho deles, mas também aprendi que o medo de falar e me defender tornaram as coisas  tão insuportáveis... orar pelo Paulo, nossa!! Como vou conseguir fazer isto?

5º cap O Conselho



Na quarta feira Júlia voltou a escola acompanhada do pai, S. Caetano, para conversar com a Diretora. Desde o momento em que contara em casa sobre a suspensão seus pais não falaram nada, só a  proibiram de sair de casa. Ninguém perguntara o porque da atitude agressiva de Júlia . Seus pais não costumavam bater nos filhos por qualquer motivo, só em último caso e quando confirmado o fato.
No momento em que chegava a escola  a sino tocou pra entrada do turno. Júlia estudava no turno da tarde, pois durante a manhã costumava ajudar em casa nas tarefas domésticas. Entraram em silêncio na escola e logo avistaram S. Rafael no pátio que dava acesso as salas...
- Boa Tarde! A Senhora Diretora mandou que comparecesse hoje...
- O Senhor é o pai de Júlia? Venha D. Severina lhe aguarda, Júlia me espere na secretaria .- ordenou o secretário enquanto conduzia S. Caetano a sala da direção que era próxima da secretaria.
D. Severina encontrava-se sentada no seu birô lendo um papel , ao perceber a entrada de S. Caetano levantou-se e cumprimentou-o:
- Boa tarde! O Senhor deve ser o pai de Júlia... sente-se – Falou mostrando a cadeira enfrente ao birô. S. Rafael saiu e fechou a porta.
- D. Diretora eu queria pedir... – começou o pai de Júlia timidamente.
- S. Caetano, não é mesmo?- interrompeu a diretora colocando o papel que estava lendo antes a frente de S. Caetano.- Sabe o que é este papel?
- Desculpe senhora, mas não sei muito de leitura e documentos...
- Não precisa saber muito Senhor.- falou solicita- este é um documento, um abaixo assinado feito pela turma de Júlia e... bem quase todos os professores, sabe pra que?
- Não senhora.
- Pedindo pra que eu releve o que a Júlia fez, que não a puna , nem expulse e sei lá mais o que... – falou chateada- como se esta fosse minha idéia em algum momento, oras!
- Mas, não entendo... a senhora suspendeu minha filha e ..
- Sim suspendi, porém não por castigo. Foi uma medida pra protegê-la, pra afastá-la de uma situação de risco. Jamais pensei em fazer-lhe algum mal, pois sua filha é uma de minhas melhores alunas.
- Não compreendo?
- No bilhete, expliquei que era uma medida pra acalmar os ânimos da Júlia e que a mesma não deveria ser punida, apenas desejava conversar com o senhor ou sua esposa e que Júlia deveria ficar em casa pra recobrar a sua costumeira calma ... o senhor seguiu minha orientação?
- Claro! Não costumo bater sem razão em meus filhos por isso estou aqui...
E atenciosamente ouviu o que D. Severina tinha a lhe falar.
Enquanto isso na secretaria, Júlia  conversava com S. Rafael que também freqüentava a mesma igreja de Júlia.
- Sabe  Júlia fiquei muito preocupado com o que aconteceu. Você não é uma garota de brigar ou aborrecer-se sem motivos e naquele dia estava muito nervosa, o que houve?
- Nada não...
- Mentir é feio Júlia! Sabemos que o Paulo não tem um bom comportamento, mas você agir daquela forma...
- S. Rafael o que o senhor faria se, digamos alguém sempre xinga-se e zoa-se?
- Sabe a minha filha Júlia? A Ângela? Ela estuda aqui de manhã e sempre que isto acontece a orientei a procurar ajuda, nem sempre enfrentar abertamente a situação é a melhor maneira... você já tinha contado pra seus pais ou alguém o que estava acontecendo?
- humm eu... não contei, tinha medo...
- Pois é... o medo alimenta o agressor nestes casos e outra pessoa pode ajudar a acharmos a solução. Sabe, o Paulo é meu vizinho...
- Não sabia que o senhor morava aqui na favela...
- Júlia morar na favela não é sinônimo de vergonha, a não ser que ela mude seu interior  e você se deixe levar por maus exemplos.É preciso morar na favela, mas não deixar ela habitar dentro de você. Aqui no Coque seria muito bom de morar se todos pensassem isto.
- Sei...- respondeu Júlia pensando em quanta gente boa que conhecia – mas, o que tem o Paulo?
- Paulo querida, é uma vítima dos que se deixaram levar pela miséria da alma... o pai dele está preso por assassinato, a mãe é alcoólatra e Paulo está envolvido com as drogas... é um avião.
- É pra ter pena dele? Não entendo?
- Não Júlia, como cristã é pra orar por ele.Sabe, a transferência dele foi pra tentarmos  tirá-lo deste meio, ele está indo pra outro bairro morar com os avós. Ore por ele, pois quando ele saiu daqui me pediu pra falar com você... ele ficou assusta do quando você fez aquilo e via em você tudo o que ele queria ser e ter.
- Mas eu não sou ninguém, nem tenho nada...
-Você tem sim menina e como tem! – riu o senhor Rafael carinhosamente - você tem força, tem sonhos, tem uma família que te ama e é muito inteligente . Tudo o que pessoas como Paulo queriam ter  e ser... e o principal as pessoas podem ver Deus em você.
- Em mim?
- Sim  e isto é sua maior força, não se esqueça. Cristo em seu coração é a sua verdadeira força  pra impedir que as coisas ruins da favela tome sua alma.
- Então o senhor acha que devo orar pelo Paulo?
- Eu não acho, tenho certeza. Foi o próprio Paulo que pediu quando conversei com ele e o convidei a ir a igreja.
- Nós não fomos a igreja domingo... Seu Rafael, não é somente o Paulo que está mexendo comigo...  o senhor conhece o Zeca?
- Sei... Zeca ou melhor a turma do Zeca foi pega ontem traficando drogas aqui na escola pela polícia... estão na FEBEM.
- Como?
- Desculpe, mas não posso dizer como.
O Paulo!!

domingo, 10 de abril de 2011

QUERIDO DIÁRIO

Recife 14/04/1989

Estou suspensa!!
Só você me entende e digo que esta suspensão eu receberia mil vezes se necessário...
A professora  de Arte fez um trabalho em equipe e colocou o Paulo no meu grupo. Será que ela não sabe que ele vive me provocando?
E ele pegou pesado desta vez, me fazendo até chorar... porém, foi a última! As meninas me defenderam e até o Raul, que também estava no grupo me defendeu... mas o Paulo não tolera ser enfrentado e continuou provocando... tudo por causa deste maldito corte de cabelo!! Já não basta minha feiúra normal, minha mãe tinha que inventar de fazer de meu cabelo de bucha esse corte horroroso??
Levantei na hora e falei pra ele e pra todo mundo que nunca mais seria motivo de gozação... rasguei o papel que ele ficou mostrado com minha caricatura e joguei na cara dele... tive vontade de bater nele, mas consegui sair de perto a tempo e fui pra diretoria. A professora chegou logo depois e  foi aquele tumulto, pois a sala toda, a escola toda foi pra porta da direção... D. Severina queria saber o que aconteceu, me pediu pra perdoar o Paulo e blá blá blá S. Rafael o secretário apareceu e colocou todo mundo em sala... enfim, tô suspensa e Paulo vai ser transferido... Tudo isso por que tínhamos de ver através do visível o invisível!!
E eu vi! Vi que sou forte, muiito forte!

4º cap. REVELAR PELO VISÍVEL O INVISÍVEL

4º cap.  REVELAR PELO VISÍVEL O INVISÍVEL

 A semana passou mais tranqüila  para Júlia e, na aula de Arte, ela até esqueceu um pouco de suas neuras...
Lara continuava misteriosa e  com certeza precisava explicar a amiga o porque de suas fugas e faltas, até na escola.
A aula estava muito divertida e quando a professora de Arte mandou a turma  formar grupos de estudos Júlia notou que no seu grupo estava quase completo, Lara não viera de novo.. sobrara apneas Flora, Gema, Graça e ela. 
A professora também notara o fato:
- Raul, você está sem grupo?  Então fique com as meninas, Paulo também!- ordenou a professora, distribuindo as tarefas dos grupos formados.
-Essa não!!- cochicharam as amigas
- Jú... – começou Graça
- Tudo bem amigas, acho que agüento essa... eu acho...
Ambos vieram para o grupo Raul calado como sempre e Paulo, que sempre apoquentava Júlia, já veio mal humorado.
- To a fim de nada não viu cabeçuda!! – falou baixo pra  professora não escutar.
Júlia ignorou. Eles não  se afinavam, contudo, com ordens superiores teria de aturá-lo.
- O que vocês vão fazer hoje é uma discussão em grupo pra opinar sobre as frases que entreguei...
A frase do grupo de Júlia era:
“ REVELAR PELO VISÍVEL O INVISÍVEL”
Concentrada, Júlia  começou  a repetir em voz baixa a frase... Os colegas de grupo faziam o mesmo, esperando o primeiro corajoso que puxa-se o grupo na tarefa... mas, Paulo se remexia na cadeira... sem interesse na tarefa, começou a mexer com Júlia:
- E ai CDF? Conseguiu descobrir a charada?
A garota ignorou a provocação mais uma vez...
- A cabeçuda, Julie Pops não sabe fazer a tarefa?? Oh!! O que farei??- falou fingindo desespero...
Raul observava o que estava acontecendo e começou inquietar-se...
- Quem sabe é esse corte de Chirtãozinho e Xororó  que esteja lhe atrapalhando...
Júlia começou a prender o choro, pois sempre colocavam apelidos nela, mas esta semana sua mãe resolvera experimentar um corte novo, mesmo contra sua vontade e o corte que deveria deixá-la mais bonita ficara horrível!! Chirtãozinho e Xororó  ficariam ofendidos com a comparação... Dissera a mãe que  queria  os cabelos longos, mas não adiantara... Chorara muito em casa, mas isso agora...
O garoto não parecia satisfeito, começou a rabiscar  no caderno uma caricatura horrenda da Júlia e quando a professora não estava olhando começou a mostrar chamando a atenção de outros grupos...
- Cara te enxerga!! Temos trabalho a fazer e tua palhaçada ta atrapalhando... – começou Flora defendendo a amiga...
- Pois é! Nós temos que aturar tuas piadas sem graça, mas só porque a professora não sabe o que você faz com a Jú...- continuou  Gema.
- Mas te manca, meu!! Por isso ninguém te quer em grupo nenhum... Vai repetir de novo, de novo e de novo!!- finalizou Graça.
- Huuuu!! To morrendo de medo!! Sabe vocês me deram uma idéia... a partir de hoje vou sempre ficar no grupo de vocês e vou tirar as melhores notas , ninguém vai me impedir!
Essa não! Teriam de aturar o Paulo até o fim do ano??
- Sabe meu irmão, acho que você não gira bem da cuca... As garotas podem colocar ou não o teu nome no trabalho, pois quem não produz não colhe! – falou Raul com calma e firmeza na voz, olhando bem firme pro Paulo.
- Olha Raul, ta defendendo a cabeçuda? Ta namorando ela é... – respondeu Paulo encarando o Raul de forma zombeteira.
A sala toda já tinha percebido o que tava acontecendo no grupo de Júlia e a Professora já vinha na direção deles, quando Júlia que até então estava relevando os desaforos do Paulo, vermelha de raiva, lembrando de tudo o que acontecera: seu cabelo, a despedida de Lívia, o choro de Tácio, o que aconteceu com Buiú, as ameaças da turma do Zeca...  Sentiu o sangue fervendo, os sentimentos a flor da pele e levantando tão rápido que derrubou todo seu material e a cadeira, assustando todos que a conheciam por sua timidez, encarou o Paulo e disse:
- Se um dia me dissessem  que você seria tão idiota e estúpido, tão otário e perverso, eu diria que não seria possível, pois você lá no fundo  não teria a capacidade de ser tão besta... Mas, hoje Paulo, você ultrapassou todos os meus limites! E mesmo que eu tentasse, não conseguiria ver o que está invisível em tanta idiotice, em tanta asneira e basbaquice... Hoje foi o último dia que você ou qualquer outra pessoa – falou olhando a sala que havia parado tudo e os olhavam assustados – Que qualquer pessoa que exista ou venha a existir irá zombar de mim e baixarei minha cabeça sem resposta!!!
E tomando o papel com a caricatura das mãos de  Paulo, rasgou com muita raiva o papel e atirou na cara dele. Apanhou suas coisas e saiu enraivecida da sala.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

QUERIDO DIÁRIO

Recife 10/04/1989

" Será que quando fazemos 13 anos recebemos uma placa de azar?"
A Gema acha que devo contar aos meus pais que estou sendo intimidada na escola...
A turma do Zeca, o Wagner e a Paula, hoje pegaram forte comigo. Chegaram a oferece um baseado e mostrar um canivete... fiquei morta de medo!! E o pior é que meus irmãos tavam junto. O Mário e o Carlos são pequenos e consegui convencê-los a não contar nada , mas por quanto tempo ? tremo só de lembrar o que houve...
E o Buiú... nossa não sei nem o que pensar. A mãe dele tá desesperada...
Engraçado como uma mesma palavra pode ter sentidos diferentes. Novato, foi assim que a turma do Zeca chamou o Buiú. Mas, hoje na escola também tinha um novato: o Raul.
Tô me sentindo péssima tanta coisa acontecendo...
Até quando vai esta maré de azar?

quinta-feira, 7 de abril de 2011

3º cap O novato

3º cap O novato

“ será que quando fazemos 13 anos recebemos uma placa de azar??”
Júlia pensava enquanto ouvia sua mãe gritar, insistentemente, para que os filhos levantassem .
Abriu os olhos e tentou em vão pular da cama com a costumeira energia.Demorara muito a pegar no sono pensando nos problemas, tentara de muitas maneiras para de pensar nos últimos acontecimentos, mas nada! Pior que nem podia se mexer muito, senão acordava os irmãos que dormiam no mesmo quarto...
- Júlia, Mário e Carlos... acordem agora ou vou ai arrastar vocês pra fora  da cama! O galo já cantou faz tempo...
Galo?? A mãe não perdia os hábitos... galo na favela, só pra virar espetinho!! Aquela observação da mãe deu-lhe um pouco de animo pra levantar-se e
Acordar os irmãos... pegou a escova e a pasta e foi pro tanque de roupas que ficava na parte de trás da casa. Ali estendia-se a roupa lavada e seu pai tinha plantado algumas verduras em latinhas:tomate, pepino, pimentão... a pequena horta ficava apertada no curto espaço do tanque e da cerca de madeira que dividia sua casa com a de D. Márcia.
A mulher tinha cinco filhos que deixava trancados todas as noites no casebre de madeira enquanto saia... diziam que ela era uma mulher da vida, contudo sua mãe sempre a tratara com muito respeito e as vezes levantava a noite ia até a cerca e chamava pelas crianças pra saber se precisavam de algo...
- Finalmente levantou menina!! Vai cuidar do café senão vocês perdem a aula...
Já estava indo pra cozinha, quando D. Márcia apareceu na cerca e chamou sua mãe:
- D. Olga!!
- Bom dia vizinha! Precisando de algo?
- Não, bem sim... é que acabei de chegar e o Buiú não ta!
- Seu filho mais velho?
- É! As crianças dizeram que ele fugiu pelo telhado, depois que os amigos chamaram...
- Então isso foi muito tarde, pois de meia noite vim aqui e chamei as crianças e seu menino respondeu...
- Ele anda envolvido com umas coisas sabe, to com medo!!
- Calma! Vá se arrumar que ele já já aparece...
- Se eu pego esse garoto! Vou quebra ele no pau!! Saio o que  noite e faço pra dar comida pra eles! Cuido da melhor maneira que posso e...
Nesse momento alguém começa a bater na porta desesperadamente:
- Ô de casa!! Corre aqui!!
D. Márcia corre pra porta e Júlia de onde está percebe os trajes e maquiagem que ela usa, roupas muito curtas e maquiagem pesada.
- Deseja!!
- Desculpe – o homem falou baixinho com cara de quem tem uma má noticia – é que acharam seu filho nos galpões da  Avenida Sul todo queimado e levamos pro hospital... parece que os colegas fugiram e o vigia pegou ele e fez umas coisas, a senhora sabe né, ele tava roubando... e não era a primeira vez... então, tinha um tanque que os mecânicos usam pra lavar as peças dos caminhões e... tava cheia daquele treco... Ácido, acho eu, e o cabra colocou ele lá e... Sacudiu na rua, pra depois dá no pé... Ele ta na restauração...
Júlia não pode ouvir mais nada, pois sua mãe olhando pro estado dela a puxou pra dentro e trancou a porta da cozinha... Ambas se abraçaram e choraram muito, pois o garoto só tinha 15 anos era um pouco mais velho que Júlia e costumavam brincar juntos quando menores.
Um pouco mais recuperada Júlia  terminou de arrumar os irmãos e foram pra escola. Andavam uns 20 minutos por dentro da favela pra chegar a escola.  Durante todo percurso Júlia ouvia os comentários sobre o menino queimando, até a rádio falava do assunto e diziam que ia sair no jornal e tudo...
Antes de entra na escola, Júlia avistou um grupo que sempre gostava de provocá-la e as vezes até  bater nela... Eles estavam muito juntos com algo na mão que passavam de um pra outro... não tinha ninguém por perto e pra entrar na escola tinha de passar por eles...
- Aí, branquela! Teu namorado foi pego?- falou o maior deles
- Quem manda ser burro? Tem que ser como nós... – abrindo os braços mostrou algo na cintura, um canivete pequeno. Júlia segurou a mão dos irmãos e tentou passar sem falar nada. Mas uma garota menor era nova no grupo ficou na frente de Júlia e abriu a mão dizendo:
- ou pegar o que nós pegamos...- era um baseado.Júlia olhando espantado pra garota falou com muita calma:
- Não sei seu nome, mas prefiro ser covarde... a mãe dele ta desesperada e... ele era da turma de vocês...
- Mas era burro!
- Concordo! É burrice entrar em algo que não vemos outra saída senão a morte e a cadeia...
- Kkkkkk deixa ela ir... é uma crentinha careta!- falou o maior- teu amigo era novato kkkkk
- Obrigada! – falou Júlia rápido e saiu arrastando seus irmãos.
- Júlia!!- escutou Gema falar assim que passou pelo portão – o que houve??
- Nada, só aquele grupinho de novo...- falou baixinho enquanto entrava na sala
- Vc devia contar pro seus pais... humm Soube do garoto queimado?
- Ele é meu vizinho Gema... e  quanto a contar pro meus pais... esses garotos não vão aperriar pra sempre... eles tavam com droga, daqui a pouco somem e... não quero envolver meus pais nisso, é perigoso... to tremendo até agora... coitado dos meus irmãos...
- Jú!!- Mal sentara e Lara já foi puxando a cadeira pra junto- vocês souberam??
- Do garoto queimado? Era vizinho da Jú...- falou Gema
- Não, do novato!!
-Que novato??- indagou Júlia lembrando do que escutara antes de  entrar...
- Oxente!! Onde teus olhos estão?? Aquele ali... – e apontou pra um garoto sentado na última cadeira bem afasta do delas. Quando Júlia acompanhou a indicação de Lara o garoto a encarrou.
- Ahh! Sei...- desviou o olhar – deve ser o tal do Raul que veio de uma escola particular... o professor de falou na outra aula lembra?
- Ele ta te olhando Júlia!! – cochichou Lara.
- Impressão sua... olha por que você não foi pro ensaio? Sabe a Lívia vai embora...
- Júlia,  se minha mãe perguntar, por favor diga que eu fui!!- Lara falou toda nervosa.
- Lalinha, o que você anda aprontando??
- Nada não! Nada não...- e quando Júlia ia insistir mais a professora de português entrou e foi logo falando:
- Entrem, por favor! Silêncio- e olhando o garoto novo na sala, perguntou:
- Você deve ser o Raul...o novato!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

QUERIDO DIÁRIO

Recife, 08/04/1989

Meu mundo acabou!! Quero sumir!!!
Eu disse que a vida ta perdendo o sentido, mas agora não sei por que viver...
A única coisa  que alegra minha vida é cantar, mas minha professora de canto vai embora, ninguém vai ficar no lugar dela...
O que vou fazer? E meus sonhos?
Tudo bem que ela tem sete irmãos e que a mãe ta doente, que ela tem de voltar pra Bahia, mas não voltar mais? Sinto que meu coração foi arrancado... e sabe quem me deu a notícia? O Tácio.
Ele tava chorando no pátio da igreja... engraçado ele dizer que homem não chora e que o pai vai bater ... meu Pai chora, só não chora na frente da gente, mas já vi ele conversando com mamãe e os dois tavam chorando... meus irmãos choram... senti pena do Tácio, pois quem vai consolar ele se não pode chorar? como agüentar a dor, que também to sentindo e não poder derramar uma lágrima?

terça-feira, 5 de abril de 2011

2º cap Despedidas


Era sábado. E ela adorava aqueles dias, pois era um dos dias mais animados da semana...
Aula de canto, encontro com os amigos, jogo de bola no pátio da Igreja...
Acordou toda animada e foi ajudar sua mãe.
- Bom dia!! – falou sentando a mesa e pegando um pão.
- Ora, vejam só quem ta toda animada hoje?! Espero que continue assim pra arrumar a casa comigo. – Júlia olhou a mãe com vontade de perguntar se hoje seus irmãos iriam ajudar nas  tarefas, mas com medo do revés, calou-se e foi lavar os pratos.
Eram pobres, uma família vinda do interior do estado que por não ter dinheiro suficiente, teve de morar na favela, numa casa muito simples que seu pai construíra... Seus pais eram trabalhadores, mas não tinham estudo e, portanto faltava trabalho.
A igreja ajudava com doações e alguns serviços, mas nada era fácil no Brasil.
Faltava: leite, trigo, carne... a comida era racionada. O pão do café era contado e os preços subiam todos os dias... sua mãe tomava conta da casa e cortava cabelo da vizinhança. Sabia ler e tinha  freqüentado a escola até a 6ª série, então dava aulas de reforço em casa  pra criançada da vizinhança. Tudo pra ter um trocado a mais...
Mas, o que revoltava Júlia, era que só ela fazia as tarefas domésticas. Seus irmãos podiam brincar a vontade, nem a cama forravam!
Júlia começou a lavar os pratos do café e ficou olhando a mãe que catava o feijão...
Era uma mulher simples, com cabelos negros, nariz afilado  e a pele levemente bronzeada...
Ficou imaginando a mãe com 13 anos ... “Ela deve ter sido muito bonita! Ela é muito bonita!”
- Julia, menina! Olha a torneira ligada! Lava esses pratos logo!! – o chamado da mãe a despertou de seus sonhos.
“A quem eu puxei!” continuou lavando os pratos e lembrando dos apelidos que lhe davam na escola e na igreja: baixinha, branquela, cabeçuda, cabelo de fofão...
Teve vontade de chorar, mas continuou lavando os pratos...
Hoje é sábado! Vou me divertir a beça na aula de canto e vou ver, ai ai, Tácio e Danilo...
Enfim terminara os serviços domésticos...
“Acho que terminei tudo!”, lavara prato e roupa, ajudara no almoço, varrera e espanara toda casa, passou pano e limpou os móveis... Bem, pelo menos por um tempo tava tudo arrumado...
“ Quer dizer, por enquanto...” porque seus dois irmãos fariam o favor de bagunçar e não arrumar nada, urfa!
Olhou o relógio e viu que estava atrasada pra aula de canto. Atrasada e cansada... Andaria uns 15 minutos saindo da favela em direção ao centro da cidade, onde a Igreja ficava. Correu logo pro banho e partiu rumo ao seu destino...
A Professora de canto era uma das pessoas que mais amava. Ela era gentil e paciente com todos e  a cativara com o interesse que demonstrava por cada aluno.No Coro participavam  crianças da Igreja, que moravam na favela ou em bairros  mais ricos e  Lívia tratava a todos da mesma forma, sem distinção. Ali Júlia sentia-se exatamente igual as outras meninas...
Assim que chegou a igreja viu Tácio sentado no pátio onde jogavam bola. Seu coração disparou e quase parou de andar, porém percebeu que ele estava chorando...
Criando coragem chegou perto e fez o que fazia com seus irmãos nessas horas, ficou sentada junto dele... o coração acelerado, as mãos molhadas, mas ficou ali em silêncio , até que ele percebeu sua presença...
- Júlia!!- vez gesto pra levantar e esconder o rosto, mas desistiu de imediato- Não conte ao meu pai que to chorando, por favor, senão ele me bate. Sabe homem não chora!- e passou a mão enxugando as lágrimas com força...
- Sabe Tácio, tenho dois irmãos e eles choram...- falou com coragem, pois sabia que isso era preconceito, já ouvira aquilo e sabia que todos choram, até seu pai chorava quando chegava em casa sem ter nenhum trabalho e dinheiro... – só que não fazem na frente de todo mundo. – respirou fundo e perguntou:
- O que houve?- então aquele garoto um pouco mais velho que Júlia, que andava bem vestido, sempre tinha todos os brinquedos, disse algo que acabou com o dia e a felicidade de Júlia...
- Lívia vai embora... a Cantata do  Dilúvio vai ser a última apresentação de nosso coro...
- Não pode ser!!- e começou a chorar também.


QUERIDO DIÁRIO

Recife 05/04/1989
Só posso contar com vc!!
sabe ando perdida em um grande dilema: é possível gostar de dois garotos ao mesmo tempo? por que ninguém quer nada comigo? minhas colegas já tem namorados, quer dizer, menos a Lara... muitas até já ficaram com algum garoto!!
Será que é por que sou feia? acho que é isso...
Sabe, todos pegam no meu pé, me olham como se fosse de outro mundo, cochicham quando passo ...
E agora, como se não basta-se os chatos que me põem apelidos, o professor resolveu  pegar no meu pé!
- Pensando no namorado ... Namorado!! queria ter gritado, mas não é certo... e o pessoal, ai que mico, riram da palhaça aqui!!
Ai o que faço!! Tenho vontade de sumir, pois a vida não tem mais sentido... afinal, quem sou eu???

domingo, 3 de abril de 2011

Começarei com a História de Júlia...

1º cap Eu, quem sou eu?

"A vida está perdendo o sentido".

Pensou Julia. Já tinha 13 anos, estava cursando a 8ª série, era uma garota calma que sempre tirava as melhores notas na sua turma, sempre buscava a esforçar-se ao máximo nos estudos, pois sabia que alunos  de uma escola pública e que moravam em favelas, tinham de ralar muito pra ser alguém na vida...
Contudo, por trás da costumeira cara fechada, tinha um lindo sorriso que iluminava  seus belos olhos castanhos sempre muito curiosos, principalmente quando tinha algo novo a ser descoberto, alguma novidade histórica ou tecnologica... muitos queriam  dominar, moldar e mudar a Julia, ter conhecimento do seus pensamentos secretos e misteriosos, por inveja ou simplismente por sentirem-se incomodados com sua liberdade de espírito e inteligência.
Ela sabia onde queria chegar, bem pelo menos sabia até completar 13 anos ...
Suas amigas: Graça, Flora, Gema e Lara, sempre tentavam animá-la, mas algo estava acontecendo dentro dela, algo estava mudando...
Naquele momento, perdida em seus devaneios, vagando em suas reflexões, tentando resolver o que parecia incompreensível  para sua cabeçinha de adolescente... estava apaixonada, não por um , mas por dois rapazes... E não importava o que suas amigas diziam, era o que ela sentia. Estava desesperada!
"A vida está perdendo o sentido".
Pra completar a mairia de suas amigas já tinham namorados ou dado seu primeiro beijo e outras tinham ficado e até rolado algo mais, contudo ela se via presa a sentimentos incoerentes, ser coragem de pronunciar-se a eles, de escolha ou de desabafar com sua mãe...
Como se não basta-se era caçoada por ser tímida,  não saber se vestir ou usar maquiagem... vinha de uma família simples, com habitos simples e que buscavam nos estudos melhores condições de vida.
Ai vinha outra neura: o que podia fazer pra  ser alguém na vida? somente estudar? qual curso seguir?
"A vida está perdendo o sentido".
Neste  instante  foi acordada por uma voz distante, seguida de risos:
- No mundo-da-lua, Julia, ou pensando no namorado?
NAMORADO!!
Esta palvra a perseguia, e, como se não bastassem os colegas, teria de agüentar o professor de matemática também!?
- Não, professor, eu... estava apenas pensando nas provas.
Passsados os risos, o  professor continuou sua aula e Lara perguntou baixinho:
- O que tá havendo contigo, Jú? foi por pouco amiga...
Mas a amiga ficou sem respostas, pois Júlia já estava devagando e sonhando, novamente...